Tuesday, October 17, 2006

O Trovador Solitario

DivulgaçãoRENATO RUSSOO trovador da geração 80

Após a morte de Renato Russo, a banda Legião Urbana se extinguiu; o número de fã-clubes aumentou em todo o País. As memórias não se apagaram. Fãs lembram de seu ídolo com emoção. Em homenagem ao músico, o companheiro Marcelo Bonfá se apresenta hoje, às 20 horas, ao lado da Banda Coda no antigo Perifolia PointO Russo veio de Eric Russel, um músico imaginário criado em homenagem ao filósofo Bertrand Russel. O Renato é de nascença mesmo: Renato Manfredini Júnior. Carioca, este porta-voz da juventude da década de 80 usava calças rasgadas, alfinetes na orelha e recebia influências do movimento punk. Embora nascido no Rio de Janeiro, foi em Brasília que Renato Russo viveu a rebeldia da adolescência.Como muitos jovens que almejavam ser músico, na capital brasileira, ele montou sua primeira banda: Aborto Elétrico. Na verdade, a primeira banda criada pelo músico foi a 42th S Renato Russo morreu, aos 36 anos, após passar por uma crise de depressão, sem sair do seu quartotreet Band, poucos anos antes da Aborto Elétrico. Nesse período, ele se encontrava doente - quase imobilizado, quando sofria de epifisiólise, doença óssea rara. O vocalista da 42th Street Band era Eric Russel. Mas ela existia apenas na imaginação de Renato, por isso não fez tanto sucesso como a Aborto Elétrico. Esta, no final da década de 70, começava a cativar o público. Mas o rumo da banda deixava Renato Russo insatisfeito e sai do Aborto Elétrico.Após o afastamento da banda, ele passou a se autodenominar de Trovador Solitário. Tempos de muita música e composições. Daí, vieram as canções “Eu sei” e “Química” - gravada pelos Paralamas do Sucesso. Mas Brasília respirava rock. A solidão musical de Renato Russo não duraria muito. Já no começo dos anos 80, ele conheceu Dado Villa-lobos e Marcelo Bonfá, companheiros com os quais viveria os próximo 16 anos.Nascia a “Legião Urbana”. No baixo e no vocal, Renato Russo. Na bateria, Marcelo Bonfá. Na guitarra, Dado Villa-Lobos. Um fenômeno do rock nacional. Logo no primeiro CD, em 1985, eles estouraram nas rádios nacionais. Os sucessos eram “Será”, “Geração Coca-Cola”, “Ainda é Cedo”. Canções que acompanhariam toda a trajetória da banda.Quando “Legião Urbana” lançou seu primeiro CD, o jovem cearense Jorge Luís não deu muita atenção para aquela banda que surgia. “Eu achava a Legião séria demais. Tava atrás de outros ritmos mais pesados. Mas quando eles lançaram o segundo disco, talvez este tenha sido o maior sucesso deles, eu fiquei louco e maluco. Era uma música melhor do que a outra. Aí eu comecei a entender Legião”.Jorge Luís, além de fã, é o guitarrista da banda Coda - cover da Legião Urbana. Hoje, ele toca ao lado de Marcelo Bonfá, num tributo aos dez anos de morte do ídolo Renato Russo. As apresentações cover aconteceram meio que por um acaso. “A banda surgiu, na verdade, antes da morte do Renato Russo, mas não fazia muito sentido a gente fazer cover, enquanto a banda ainda existia. Nossa intenção era ser uma banda autoral. A gente entrou nessa história de cover meio que fazendo uma onda. Nosso primeiro cover foi dos Mamonas Assassinos. Mas aí, o Alexandre Massimo, nosso vocalista, é parecido com o Renato Russo. Depois que o Renato Russo morreu, a gente fez um show e não parou mais. A Coda já ameaçou parar de fazer o cover da legião várias vezes, mas não dá. Nós ficamos conhecidos quando começamos a tocar Legião, daí a gente começou a formatar um público”, assinala Jorge Luís.Apesar de já tocar “Legião Urbana” há dez anos, o contato de Jorge com a banda é bem mais antigo. Ele acompanhou toda a trajetória do grupo. “Eu acho que o Renato Russo era um cara diferenciado, assim como o Raul Seixas. Ele tava mais antenado. Tinha uma sensibilidade muito grande e era uma pessoa informada. O grande segredo dele é que ele sabia atingir as pessoas. Ele traduziu o sentimento daquela geração”, ressalta.O guitarrista acredita que o motivo para o sucesso de Renato Russo permanecer até hoje como ícone, inclusive para as novas gerações, está no conteúdo das suas músicas. “As letras do Legião foram feitas na década de 80, com muitas críticas sociais. Mas os problemas continuam: corrupção, miséria, violência”, afirma. Segundo Jorge, a banda “Legião Urbana”, apesar de sempre estar presente nas rádios do Brasil, tinha pouco espaço na mídia. “Eles conseguiam se manter forte por causa do perfil ousado da banda. Eles mudavam suas músicas, mas mantinham o estilo. Em cada CD, eles faziam algo diferente. Enquanto as bandas pensavam músicas curtas e rápidas, eles lançavam Faroeste Caboclo, com 9 min. Eles não tinha uma exposição excessiva e faziam pouquíssimos shows. Eram como um diamante. Por ser tão raro, quando apareciam tinha muito valor”, completa.Os fãs cearenses só tiveram a oportunidade de assistir à banda em solos alencarinos duas vezes. O primeiro show deles foi em 87, o segundo em 90. Ambos lotaram o Ginásio Paulo Sarasate. Para delírio dos fãs, a primeira música cantada por eles, em 87, foi “Será”. “Eu me lembro que todos sabiam todas as músicas decoradas. Foi algo emocionante”, lembra Cristovão Jackson, admirador de Renato Russo e integrante do fã-clube Filhos da Revolução.Quando o ídolo esteve em Fortaleza, Cristovão Jackson esteve com ele por alguns minutos. “Ele era muito hospitaleiro. Fomos eu e alguns amigos, e ele nos recebeu muito bem no hotel”, revela. Cristovão possui em sua casa um amplo acervo da banda: todos os CDs, vídeos, posters. Tudo guardado no seu quarto, chamado carinhosamente de “Espaço Cultural Legião Urbana”. O fã-clube Filhos da Revolução surgiu após a morte do cantor. Hoje possui dimensão nacional e, em Fortaleza, agrega 57 pessoas.Embora o comportamento de Renato Russo aparenta ser solícito, as lembranças que Jorge Luís possui dos shows daqui de Fortaleza são diferentes. “No meio do show, jogaram uma chinela no palco e ele gritou ‘se a irmã dessa aparecer aqui, o show acaba’. Depois um cara subiu na cacunda do amigo e ficou pedindo para tocar a música ‘Soldados’. Ele respondeu: ‘hoje nós não vamos tocar soldados’”.Renato Russo tinha medo de que o fenômeno legião se tornasse em religião. Com um temperamento explosivo, fez o seu último show em 1995, no Reggae Night, em Santos, quando Marcelo Bonfá foi atingido por uma garrafa de cerveja. Depois do fato, o músico se dedicou apenas às suas composições e ao seu segundo disco solo “Equilíbrio Distante” e no último CD da banda “Tempestade”, lançado em 1996, no mesmo ano da sua morte, quando tinha apenas 36 anos. Aos fãs, só resta cantar, como ele cantava: “Já que você não está aqui,/ O que posso fazer é cuidar de mim/ Quero ser feliz ao menos/ Lembra que o plano era ficarmos bem?”.